Manifesto

     Vivemos tempos sombrios. Aparentemente governados pelas coisas. Mercadorias nos tomam como mercados, mercados nos tomam como mercadorias. Os homens e mulheres caminham pela terra na busca desenfreada por excedentes, que mesmo aos que não têm o básico se impõe pelo consumo de suas forças vitais.

     A forma capital parece tomar todos os espaços do planeta. Destruição da razão, destruição do desejo, do sonho e sobretudo da possibilidade humana de governar-se,  de dirigir-se aos seus desejos.

     Vivemos a destrutividade capitalista em seu momento mais desenvolvido. Diferente do que dizem os “novo desenvolvimentistas” do PT, e parte da esquerda fora do governo,  não existe nenhuma possibilidade de desenvolvimento capitalista sem destrutividade do mundo e avanço nos níveis de exploração. Negros, mulheres, imigrantes, gays, somos classificados como menos para gerarmos mais excedente. Somos os que recebem mais baixos salários e nossa pele  justifica o aumento do refugo humano nas prisões e o extermínio em massa.

     Somos homens e mulheres descartáveis governados por uma lógica que nos é estranha. A lógica capitalista tudo governa, nossas formas de amar, de viver e até de morrer, nossas visões de mundo são portanto impregnadas deste modo de pensar que naturaliza os (des)governos do capital e de sua burguesia decadente. Esta ordem não têm muitas possibilidades a oferecer. O caráter histórico emancipatório dela se esgotou. Mas fomos acostumados a eternidade das coisas como são.

     A esquerda também é governada por essas formas de pensar o mundo que eternizam o hoje. Possuíamos as fórmulas prontas de adaptação do mundo ao socialismo, que necessariamente consideravam a mudança na forma de distribuir as riquezas. Por isso, confundimos qualquer pequena mudança no horizonte da distribuição como progressivo e deixamos de questionar os fundamentos do modo de produzir capitalista que não tem outro fim senão gerar excedente.

     A historicidade se perdeu e inventamos diversas fórmulas prontas, ossificamos as divergências entre tradições teóricas da esquerda do século XIX e as adaptamos de forma patética as políticas mediocres que conseguimos propor. Alguns de nós ao buscar romper com o horizonte mediocre da adaptação e do reformismo mentiroso foram chamados de Desgovernados. Assumimos: queremos nos desgovernar e nos autogovernar coletivamente.

     Governada (pelo capital) é a esquerda que não se vê governada quando reproduz as hierarquias desta sociedade capitalista em sua organização e relação com movimentos sociais  baseando-se em conhecimentos teóricos que não dispõe, para justificar o injustificável à um movimento que se proponha autogestionário. Governados estão também os teóricos Marxistas que tratam algumas categorias como eternas e não vivem as agruras de nosso tempo histórico.

     Com essa revista, nosso convite é outro: Desgovernar! Porque tudo que é sólido desmancha no ar.

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